Nos dias 22 e 23 de Outubro de 2007 ocorreu no Auditório 2, no edifício da Fundação Calouste Gulbenkian, a I Conferência do Plano Nacional de Leitura – A leitura em Portugal: desenvolvimento e avaliação. Nele participaram altas personalidades das áreas da Cultura e da Educação em Portugal, incluindo a actual Ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues, o Sr. Primeiro-ministro, José Sócrates e a Comissária do Plano nacional de Leitura, Isabel Alçada.
Foram apresentados vários estudos, palestras, medidas e considerações com diferentes pontos de vista, mas tendo como principal objectivo a continuação da promoção e do incentivo à leitura na população considerada infantil e juvenil, focalizando a ligação, que deve ser uma constante, entre a Rede de Bibliotecas Públicas e a Rede de Bibliotecas Escolares (do 1º, 2º, e 3º Ciclo e do Ensino Secundário).
O Plano Nacional de Leitura é, sem dúvida, uma iniciativa, uma ideia, que passa por levantar Portugal desse fenómeno inquieto que dá pelo nome de “iliteracia”, isto é, o analfabetismo funcional. Por outro lado, as taxas de analfabetismo ainda apresentam números alarmantes para os dias de hoje. Recentemente, na comunicação social, vimos pais que não querem colocar os seus filhos nas escolas, porque segundo os próprios, não vão aprender nada. Infelizmente, muitas pessoas que investiram nas suas formações, tendo já experiências reconhecidas nas suas áreas, não conseguem arranjar um emprego mais ou menos estável Para que é que vamos investir na nossa formação, se no final não vamos ter emprego? De facto, é uma questão extremamente delicada e que mexe com as nossas atitudes e decisões no que diz respeito ao nosso futuro.
A “frieza” dos números apresentado nesta I Conferência do Plano Nacional de Leitura revelou que os mais novos são aqueles que mais se manifestam na vontade em querer aceder ao conhecimento, e mostram sobretudo, o desejo em “ler”.
Será mesmo verdade?
O estudo “Hábitos de leitura da população portuguesa” mostrou que o desejo em aprender, em querer saber mais, em querer descobrir o mundo que nos rodeia é mais notório nos mais novos, uma vez que estão na fase inicial da existência. A fase da puberdade, extremamente rica, em transformações físicas e psicológicas influencia muito os jovens nas suas futuras escolhas, sociais, afectivas e culturais.
No entanto, é curioso verificar a presença de uma classe de leitores intitulados “resgatados”, indivíduos que manifestam o gosto e o reconhecimento do fenómeno da leitura, já na fase adulta.
No que diz respeito à comunidade estudantil, foi referido um aspecto interessante, já reconhecido estatisticamente, mas sempre curioso: são as raparigas que se interessam mais pela leitura. Mas que tipo de leitura? Os gostos e os interesses de cada um não se discutem, mas é importante referir que quantidade não corresponde a qualidade. O conhecimento adquirido, com base nas leituras efectuadas valoriza a socialização, pois todos temos objectivos de vida e todos pertencemos à Sociedade da Informação.
Qual o nosso papel nesta iniciativa?
O significado desta simples palavra com três letras “LER” não implica só o reconhecimento dos grafemas e dos fonemas, mas também a compreensão e a interpretação dos mesmos. Trata-se da velha luta entre o “Significante” e o “Significado”. O eterno conflito entre a identificação e o que verdadeiramente representa. O que é que se aprende com tudo isto?
Também foi discutido o papel extremamente importante da formação de professores (e de bibliotecários) mas sobretudo, o primeiro. Uma questão levantada foi a situação delicada de os recém licenciados não terem nas suas formações, disciplinas que passam pela compreensão do fenómeno da leitura e de como ela deve ser fomentada nas nossas crianças... É estranho, na medida em que os currículos, os Planos de Estudos dos cursos via ensino, apresentam cadeiras com temáticas relacionadas com estas questões. Entende-se também que a homogeneidade das turmas e das escolas acabou à muito tempo. O fenómeno da implementação da leitura pode ter um Plano Nacional, mas a especificidade de cada instituição, de cada aluno e de cada turma conta muito. Começa nas condições físicas das próprias instituições, no interesse e na vontade de todos (professores, bibliotecários, pais, os próprios alunos, as autarquias, o Governo) em colaborar. As desavenças políticas e partidárias têm de acabar. Temos de começar a pensar num todo, num objectivo comum, abrangente a todos, sem excepção, partindo do geral para o particular.
A colaboração das Bibliotecas Públicas também foi manifestada de uma forma positiva, uma vez que têm dado um grande contributo na aplicação prática deste Plano Nacional de Leitura, com iniciativas educativas e pedagógicas de grande envergadura cultural.
Um aspecto não directamente associado a esta iniciativa do Plano Nacional de Leitura, mas que importa referir, é a ligação estreita existente entre os bibliotecários e os professores, entre as Bibliotecas Públicas e as Bibliotecas Escolares. Parece que há sempre algum obstáculo a impedir a desejada colaboração total... Parece que estão todos a querer fazer tudo e depois acabam por perder tempo, recursos e o resultado final acaba por saber a pouco.
A precocidade de alguns estudos apresentados foi posta em causa, sobretudo o Estudo de Avaliação externa do Plano Nacional de Leitura. Talvez seja cedo, mas todos precisamos de ter alguns números e algumas referências para poder começar por algum lado na tentativa de melhorar os índices de leitura, e posterior aproveitamento curricular e profissional, até porque segundo Scott Murray da Universidade de New Brunswick, do Canadá, conferencista de uma das mais interessantes sessões desta I Conferência do Plano Nacional de Leitura afirmou e provou com a “frieza” dos números que literacia e conhecimento é sinal de riqueza e rendimento pessoal e nacional. Trata-se de uma perspectiva economicista deste fenómeno da leitura que promove o desenvolvimento e a certificação das nossas competências, sendo estas obrigatoriamente de ser reforçadas à medida que vamos avançando no tempo. Neste ponto as Novas Tecnologias têm um papel extremamente activo no que diz respeito à rapidez com que a informação é processada e transmitida.
Uma das conferências apresentadas consistiu no fenómeno da aprendizagem da leitura com uma apresentação das suas principais componentes, perfis de evolução e respectivas avaliações, pelo Professor da Universidade Livre de Bruxelas José Junca de Morais que começou por definir a leitura como um processo de reconhecimento e descrição que acaba por ser reconhecido e interpretado pelo nosso cérebro e todas as implicações deste fenómeno como é o caso do acréscimo de competências verbais e fonológicas, e posteriormente, do conhecimento.
Ter a perspectiva de outros países é interessante, como foi o caso da Socióloga Helena Bomeny da Escola de Ciências Sociais – CPDOC da Fundação Gertúlio Vargas (Brasil) que evidenciou os progressos e a evolução das políticas de implementação da leitura num país marcado pelas dificuldades sociais e por uma violência constante.
Em género de conclusão, a primeira ideia a reter é fazer um levantamento das questões que mais contribuem para a iliteracia ainda presente no nosso país. Depois de identificadas, o Plano Nacional de Leitura apareceu para colmatar essas questões no sentido de alargar os hábitos de leitura e desenvolver as competências dos portugueses. Para tal, é conveniente toda a comunidade envolvente participar activamente. As Redes de Bibliotecas Escolares têm de estar em sintonia com a Rede de Bibliotecas Públicas. As instituições de ensino são parceiros inseparáveis e indispensáveis, daí a necessidade de haver uma sintonia perfeita perante os planos de dinamização e de articulação com as respectivas entidades. As autarquias têm a responsabilidade de, pelo menos, tentar providenciar as condições necessárias.
Ter noção do que se passa lá fora é importante, mas Portugal tem de ter capacidade para responder aos seus próprios desafios, tendo consciência das dificuldades e realismo nas metas a atingir.
O Plano Nacional de Leitura tem à disposição de todos uma página na Internet com todas as informações, incluindo objectivos, planos de acção, estratégias em http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt.
Gonçalo Manuel Ferreira Duarte da Silva
Estagiário no âmbito do PEPAL na Divisão de Educação da Câmara Municipal de Albufeira – Dinamização de Bibliotecas Escolares
Foram apresentados vários estudos, palestras, medidas e considerações com diferentes pontos de vista, mas tendo como principal objectivo a continuação da promoção e do incentivo à leitura na população considerada infantil e juvenil, focalizando a ligação, que deve ser uma constante, entre a Rede de Bibliotecas Públicas e a Rede de Bibliotecas Escolares (do 1º, 2º, e 3º Ciclo e do Ensino Secundário).
O Plano Nacional de Leitura é, sem dúvida, uma iniciativa, uma ideia, que passa por levantar Portugal desse fenómeno inquieto que dá pelo nome de “iliteracia”, isto é, o analfabetismo funcional. Por outro lado, as taxas de analfabetismo ainda apresentam números alarmantes para os dias de hoje. Recentemente, na comunicação social, vimos pais que não querem colocar os seus filhos nas escolas, porque segundo os próprios, não vão aprender nada. Infelizmente, muitas pessoas que investiram nas suas formações, tendo já experiências reconhecidas nas suas áreas, não conseguem arranjar um emprego mais ou menos estável Para que é que vamos investir na nossa formação, se no final não vamos ter emprego? De facto, é uma questão extremamente delicada e que mexe com as nossas atitudes e decisões no que diz respeito ao nosso futuro.
A “frieza” dos números apresentado nesta I Conferência do Plano Nacional de Leitura revelou que os mais novos são aqueles que mais se manifestam na vontade em querer aceder ao conhecimento, e mostram sobretudo, o desejo em “ler”.
Será mesmo verdade?
O estudo “Hábitos de leitura da população portuguesa” mostrou que o desejo em aprender, em querer saber mais, em querer descobrir o mundo que nos rodeia é mais notório nos mais novos, uma vez que estão na fase inicial da existência. A fase da puberdade, extremamente rica, em transformações físicas e psicológicas influencia muito os jovens nas suas futuras escolhas, sociais, afectivas e culturais.
No entanto, é curioso verificar a presença de uma classe de leitores intitulados “resgatados”, indivíduos que manifestam o gosto e o reconhecimento do fenómeno da leitura, já na fase adulta.
No que diz respeito à comunidade estudantil, foi referido um aspecto interessante, já reconhecido estatisticamente, mas sempre curioso: são as raparigas que se interessam mais pela leitura. Mas que tipo de leitura? Os gostos e os interesses de cada um não se discutem, mas é importante referir que quantidade não corresponde a qualidade. O conhecimento adquirido, com base nas leituras efectuadas valoriza a socialização, pois todos temos objectivos de vida e todos pertencemos à Sociedade da Informação.
Qual o nosso papel nesta iniciativa?
O significado desta simples palavra com três letras “LER” não implica só o reconhecimento dos grafemas e dos fonemas, mas também a compreensão e a interpretação dos mesmos. Trata-se da velha luta entre o “Significante” e o “Significado”. O eterno conflito entre a identificação e o que verdadeiramente representa. O que é que se aprende com tudo isto?
Também foi discutido o papel extremamente importante da formação de professores (e de bibliotecários) mas sobretudo, o primeiro. Uma questão levantada foi a situação delicada de os recém licenciados não terem nas suas formações, disciplinas que passam pela compreensão do fenómeno da leitura e de como ela deve ser fomentada nas nossas crianças... É estranho, na medida em que os currículos, os Planos de Estudos dos cursos via ensino, apresentam cadeiras com temáticas relacionadas com estas questões. Entende-se também que a homogeneidade das turmas e das escolas acabou à muito tempo. O fenómeno da implementação da leitura pode ter um Plano Nacional, mas a especificidade de cada instituição, de cada aluno e de cada turma conta muito. Começa nas condições físicas das próprias instituições, no interesse e na vontade de todos (professores, bibliotecários, pais, os próprios alunos, as autarquias, o Governo) em colaborar. As desavenças políticas e partidárias têm de acabar. Temos de começar a pensar num todo, num objectivo comum, abrangente a todos, sem excepção, partindo do geral para o particular.
A colaboração das Bibliotecas Públicas também foi manifestada de uma forma positiva, uma vez que têm dado um grande contributo na aplicação prática deste Plano Nacional de Leitura, com iniciativas educativas e pedagógicas de grande envergadura cultural.
Um aspecto não directamente associado a esta iniciativa do Plano Nacional de Leitura, mas que importa referir, é a ligação estreita existente entre os bibliotecários e os professores, entre as Bibliotecas Públicas e as Bibliotecas Escolares. Parece que há sempre algum obstáculo a impedir a desejada colaboração total... Parece que estão todos a querer fazer tudo e depois acabam por perder tempo, recursos e o resultado final acaba por saber a pouco.
A precocidade de alguns estudos apresentados foi posta em causa, sobretudo o Estudo de Avaliação externa do Plano Nacional de Leitura. Talvez seja cedo, mas todos precisamos de ter alguns números e algumas referências para poder começar por algum lado na tentativa de melhorar os índices de leitura, e posterior aproveitamento curricular e profissional, até porque segundo Scott Murray da Universidade de New Brunswick, do Canadá, conferencista de uma das mais interessantes sessões desta I Conferência do Plano Nacional de Leitura afirmou e provou com a “frieza” dos números que literacia e conhecimento é sinal de riqueza e rendimento pessoal e nacional. Trata-se de uma perspectiva economicista deste fenómeno da leitura que promove o desenvolvimento e a certificação das nossas competências, sendo estas obrigatoriamente de ser reforçadas à medida que vamos avançando no tempo. Neste ponto as Novas Tecnologias têm um papel extremamente activo no que diz respeito à rapidez com que a informação é processada e transmitida.
Uma das conferências apresentadas consistiu no fenómeno da aprendizagem da leitura com uma apresentação das suas principais componentes, perfis de evolução e respectivas avaliações, pelo Professor da Universidade Livre de Bruxelas José Junca de Morais que começou por definir a leitura como um processo de reconhecimento e descrição que acaba por ser reconhecido e interpretado pelo nosso cérebro e todas as implicações deste fenómeno como é o caso do acréscimo de competências verbais e fonológicas, e posteriormente, do conhecimento.
Ter a perspectiva de outros países é interessante, como foi o caso da Socióloga Helena Bomeny da Escola de Ciências Sociais – CPDOC da Fundação Gertúlio Vargas (Brasil) que evidenciou os progressos e a evolução das políticas de implementação da leitura num país marcado pelas dificuldades sociais e por uma violência constante.
Em género de conclusão, a primeira ideia a reter é fazer um levantamento das questões que mais contribuem para a iliteracia ainda presente no nosso país. Depois de identificadas, o Plano Nacional de Leitura apareceu para colmatar essas questões no sentido de alargar os hábitos de leitura e desenvolver as competências dos portugueses. Para tal, é conveniente toda a comunidade envolvente participar activamente. As Redes de Bibliotecas Escolares têm de estar em sintonia com a Rede de Bibliotecas Públicas. As instituições de ensino são parceiros inseparáveis e indispensáveis, daí a necessidade de haver uma sintonia perfeita perante os planos de dinamização e de articulação com as respectivas entidades. As autarquias têm a responsabilidade de, pelo menos, tentar providenciar as condições necessárias.
Ter noção do que se passa lá fora é importante, mas Portugal tem de ter capacidade para responder aos seus próprios desafios, tendo consciência das dificuldades e realismo nas metas a atingir.
O Plano Nacional de Leitura tem à disposição de todos uma página na Internet com todas as informações, incluindo objectivos, planos de acção, estratégias em http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt.
Gonçalo Manuel Ferreira Duarte da Silva
Estagiário no âmbito do PEPAL na Divisão de Educação da Câmara Municipal de Albufeira – Dinamização de Bibliotecas Escolares
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